Carregando natureza até no nome, Gabrielle Terra Souza, 27 anos, fez do cuidado com o outro um princípio de vida. Nascida na Fazenda Água Tirada, em Maracaju (MS), Gabi – como ela gosta de ser chamada – é a quinta geração de uma família de agricultores e pecuaristas.
Nessa entrevista ao Comida Boa, ela nos conta como boas práticas agrícolas e o capricho com a sanidade animal são fundamentais para o sucesso da agropecuária e, especialmente, para a segurança do alimento.
Você se formou em administração de empresas. Por que decidiu permanecer na fazenda?
Eu morei na fazenda até os 5 anos de idade. Meus pais se mudaram para a cidade, porque eu precisava ir para a escola. Mas sempre me levaram para a fazenda, para o trabalho no curral.
Isso foi desenvolvendo um senso de pertencimento à atividade e, também, de responsabilidade por tudo que já tinha sido feito antes de nós. Pensei em ser médica, pois sempre gostei muito de cuidar de pessoas e, na época, pensava em dividir meu tempo entre a medicina e a fazenda. No entanto, ao me conhecer melhor, entendi que não precisava ser médica para cuidar de pessoas, que há muitas outras formas de fazer isso.
Hoje, o que sua família produz?
Temos soja, milho, cana e trabalhamos com ciclo completo na pecuária, tanto com animais de elite quanto de corte. Na pecuária, produzimos desde a genética até entregar o animal para o frigorífico.
Quais cuidados vocês adotam para garantir a segurança dos alimentos que produzem?
Acompanhamos atentamente todos os processos da produção. No caso da agricultura, por exemplo, a aplicação de defensivos só é feita sob prescrição da nossa assessoria agronômica. Aplicar somente o necessário, o mínimo possível.
E isso é controlado por um aplicativo que fica à mão de quem coloca o defensivo no campo. A prescrição só é feita após análise minuciosa da área em relação às pragas.
Na pecuária, temos também esse controle completo da produção animal. A ração é feita com subprodutos da nossa lavoura. A sanidade, a nutrição e a parte reprodutiva têm sido acompanhadas por um veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o que nos dá segurança sobre a forma de produção. Queremos sempre produzir o melhor para que também possamos consumir o melhor. É uma questão de princípio.
Como vocês escolhem os insumos que usam?
Todos os produtos adquiridos são aprovados pela Fundação MS (Empresa de Pesquisa e Difusão de Tecnologias Agropecuárias de Mato Grosso do Sul) em relação à eficiência. Abrimos nossa propriedade para testes de empresas, porém, a Fundação tem toda a metodologia de análise desses resultados, o que nos dá segurança daquilo que consumimos. Nos últimos anos, o que temos visto é que os defensivos químicos têm tido dificuldade de combater algumas pragas e, é aí que o biológico tem mostrado sua importância. Minha irmã está fazendo mestrado em entomologia (estudo dos insetos) e sempre acompanhando os lançamentos do mercado com respaldo da Fundação MS e da nossa assessoria agronômica. No entanto, é importante ressaltar que a sustentabilidade é um tripé – social, ambiental e econômico. No final do dia, precisamos pagar as contas e dar qualidade de vida aos nossos colaboradores e suas famílias. Então, é essencial termos essas contas na ponta do lápis. É preciso ter equilíbrio financeiro para a continuidade do negócio.
Como vocês cuidam da saúde do gado?
Estamos sendo acompanhados pela UFMS para montarmos o protocolo sanitário dos animais com o que há de mais moderno e eficiente no mercado, sem nos apegar a marcas, mas a resultado baseado em pesquisas com metodologia.
Todo o rebanho recebe as vacinações obrigatórias como aftosa, raiva, botulismo e brucelose. Na maternidade, por exemplo, tem um mangueiro (curral) onde a vaca é separada do bezerro durante o momento de aplicação das vacinas ou na hora de cuidar do umbigo para evitar que o bezerro e os peões se machuquem. O manejo é racional visando o bem-estar animal. Também temos reservatórios de água apenas para atender ao rebanho.
Vocês acompanham a produção depois da porteira, até a chegada ao consumidor?
Na pecuária, nosso rebanho é 100% rastreado com um sistema interno de rastreabilidade e identificação eletrônica e estamos no processo de cadastro com o MAPA para termos o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV). Para exemplificar, na carne que entregamos em Campo Grande, é colocado no pacote a procedência do produto e, em breve, teremos a marca do grupo na embalagem.