Que o sal em excesso faz mal para a nossa saúde, todo mundo sabe. O que talvez você não tenha escutado é que o sal também pode fazer um grande estrago nas plantas.
O excesso de sais minerais tem efeito tóxico nos vegetais e interfere nas características físicas do solo. O acúmulo de sódio, por exemplo, diminui a aeração, dificulta o movimento da água e o desenvolvimento das raízes. Uma complicação bem grande para a produção agrícola.
E será que tem saída para esse problema? Quer saber? Segue a leitura.
O que torna os solos salinos?
Quantidades aumentadas de sais no solo são mais comuns em regiões áridas e semiáridas e se formam em decorrência das condições climáticas. Nesses locais a água também costuma ser salgada, como é o caso do sertão nordestino.
A água possui sais minerais, tais como o potássio, sódio e muitos outros. No entanto, o acúmulo excessivo dessa água no solo, somado ao seu elevado índice de evaporação, pode provocar a salinização, pois os sais depositados não evaporam. Assim, quando as chuvas são escassas e o solo é pouco lavado pelo escoamento das águas pluviais na superfície, os sais se mantêm acumulados.
Já que chorar não resolve, vamos atrás de soluções
Para muitas das principais culturas agrícolas, o aumento de sal no solo, despenca a produtividade média da lavoura a apenas uma fração dos recordes.
Por conta desse impacto, várias ferramentas têm sido adotadas para contornar o problema. O melhoramento genético clássico, por exemplo, pode resultar em plantas mais tolerantes. Mas, é sempre um processo demorado e de baixa previsibilidade (cruzamentos genéticos não costumam nos garantir o resultado, o que não quer dizer que não funcionam).
Genética resistente pode crescer até em Marte
Se você viu Matt Damon cultivando batatas no filme Perdido em Marte e, se perguntou se fazia sentido. A resposta é sim, pelo que a ciência já nos mostrou, existe variedade de batata com chance de ser cultivada em Marte.
Uma equipe de cientistas do Centro Internacional da Batata (CIP), com sede no Peru, identificou batatas resistentes a solo tão salino quanto o de Marte e fez experimentos submetendo o tubérculo a condições extremas, similares às do planeta vermelho.
Independentemente do que faremos em futuras missões a Marte, o experimento proporcionou boas notícias sobre o potencial da batata para nos ajudar a sobreviver em ambientes hostis na Terra.
Santa biotecnologia
Com a biotecnologia moderna, já é possível inserir ou editar os genes que podem resultar numa planta mais tolerante ao sal. Bacana, não é? Com isso, podemos cultivar em lugares que ficaria muito difícil de encarar a agricultura. Ou seja, aqueles ambientes que seriam abandonados, podem ser usados para plantar e alimentar pessoas, graças à ciência e tecnologia.
Pensando dessa forma, os pesquisadores Eduardo Blumwald, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos) e Hong-Xia Zhang, da Universidade de Toronto (Canadá), desenvolveram um tomate que sobrevive sendo irrigado com água salgada.
Em 2018, foi a vez do pesquisador brasileiro Lázaro Eustáquio Pereira Peres e sua equipe ganharem fama internacional por deixar o tomate resistente ao solo salino, usando a técnica de edição genética de CRISPR. O estudo foi publicado na revista científica Nature Biotechnology.
Para você saber, ainda que o tomate esteja entre as culturas mais sensíveis ao excesso de sal, a biotecnologia tem trabalhado para entregar poderes a muitas outras plantas.
Já conhecemos trigo, cevada e arroz aprimorados para não se abalarem com solo salino mas, muitas outras culturas seguem sendo pesquisadas.
Futuro salgado
Tanta preocupação com o sal pode ser muito bem justificada pela expectativa de que 50% das terras que usamos para a agricultura tenham mais sal em 2050. Assim, algo precisará ser feito para que a agricultura não sofra consequências graves por conta desse processo.
O alerta nos mostra que precisaremos combinar ferramentas como biotecnologia moderna, boas práticas agrícolas e tudo que estiver ao nosso alcance para não desperdiçarmos nenhum pedacinho de solo e garantirmos alimento, fibras e energia para a humanidade.