Como nosso planeta estará daqui 10, 20, 100 anos? É bem provável que você já tenha se feito essa pergunta. Assegurar que a Terra siga oferecendo todas as condições necessárias para a nossa sobrevivência é uma das maiores preocupações da sociedade moderna.
E temos motivo para isso! O século 20 foi marcado por grandes descobertas e realizações. O avião, a energia nuclear, os computadores, a internet, os telefones celulares, entre tantas outras invenções, mudaram a maneira como produzimos, a forma como nos comunicamos e nos locomovemos.
Os avanços da medicina aumentaram a expectativa de vida e a tecnologia desenvolvida e aplicada na agricultura melhorou muito a capacidade global de produzir alimentos.
Por outro lado, os últimos 120 anos também foram marcados por profundas mudanças nos sistemas industriais e nos hábitos de consumo da população. Para atender a demanda, aumentamos o uso de recursos naturais, geramos mais lixo e aceleramos a emissão de gases de efeito estufa. Resumindo: para conservar o planeta, cada um de nós precisa contribuir.
No Brasil, O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) – trabalha para reduzir as emissões de CO2, o aquecimento global e as mudanças climáticas.
O CEBDS é uma associação que promove o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil, além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais do tema.
Para conhecer como funciona esse trabalho, conversamos com Nina Von Lachmann, analista técnica do CEBDS.
Como surgiu o CEBDS?
O CEBDS é um conselho empresarial inspirado pela Rio 92, quando um grupo de empresários percebeu as oportunidades que o desenvolvimento sustentável trazia para o setor e, também, para o país como um todo.
O Conselho nasceu em 1997 e, desde então, vem trabalhando no setor empresarial não só para ajudar a traçar metas ambiciosas para alcançar o desenvolvimento sustentável de cada indústria, mas também com projetos institucionais como a Visão 2050. Estamos fazendo a revisão, junto a mais de 4 mil participantes, não só do setor empresarial, mas da sociedade civil e do governo revisando 8 capítulos que incluem temas como água, alimentos, economia circular, energia, finanças para entender onde a gente quer chegar, o que a gente precisa para chegar lá e quais são os caminhos para alcançar as metas traçadas nestes documentos. Além de câmaras temáticas, temos grupos de trabalho e um grupo que está aumentando muito é o de sistemas alimentares.
Quais as consequências das mudanças climáticas?
Já é um consenso entre 97% dos cientistas climáticos, que a atividade humana está acelerando o aquecimento global e as mudanças climáticas. Essas mudanças geram catástrofes como seca, chuvas extremas, furacões e, também, um grande problema social. A gente está vendo um número enorme de refugiados climáticos e a previsão é que aumente cada vez mais. Aqui mesmo no Brasil, tem um êxodo rural conectado com a seca no país. Isso afeta as populações, o setor empresarial e, principalmente, o agronegócio e o setor de alimentos que sofrem com aumento das temperaturas, secas, queimadas e diversos outros problemas.
Quais são os desafios do grupo de sistemas alimentares?
90% da agricultura no país é irrigada por chuvas. Estima-se que em 2050 teremos 10 bilhões de pessoas no mundo e isso vai aumentar muito a demanda de produção de alimentos no Brasil. Então, a agenda forte do agronegócio hoje é aumentar a produtividade através de inovação, tecnologias e práticas que respeitem o meio ambiente, promovendo políticas públicas que favoreçam a implementação dessas tecnologias, inovações não só para os grandes produtores, mas para os pequenos e médios também. Existe um movimento de desenvolvimento de práticas baseadas na natureza e, também, na ciência. Já temos o plantio direto, a agricultura 4.0. e o agronegócio está bastante concentrado nesse aumento de produtividade para que não ter que usar mais terra. O Brasil já é referência em diversas técnicas e, também, em pesquisas no agronegócio. Temos a Embrapa, uma legislação bastante avançada como o código florestal e o cadastro rural. Estamos no caminho certo, mas ainda temos muito a percorrer.
Como desacelerar o ritmo das mudanças climáticas?
No setor de alimentos, temos que pensar na mitigação da emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE). Apesar do Brasil estar entre os 10 primeiros emissores de gases de efeito estufa globais, ele destoa muito dos principais emissores. Isso se dá porque as emissões de GEE no Brasil vêm de um setor diferente dos setores dos países desenvolvidos. As emissões têm origem no desmatamento ilegal. E 99% do desmatamento no país é ilegal. Mas muitas empresas já têm softwares e iniciativas, não só individuais como em coalizões empresariais, para trazer mais rastreabilidade aos alimentos e atacar o desmatamento ilegal.
Além disso é importante, não só o agronegócio, mas o setor como um todo atacar a perda e desperdício de alimentos. Existe um estudo que afirma que se a perda e desperdício de alimentos fosse um país, ele seria o terceiro maior emissor de GEE do mundo. A gente ainda não tem dados claros no Brasil sobre isso, então, é importante implementar uma maior rastreabilidade na cadeia de alimentos para entender de onde vem essa perda e desperdício.
Também existe a necessidade dos consumidores escolherem melhor o que comem. Fazer a transição para uma dieta mais saudável e sustentável, com alimentos que fazem bem para a saúde das pessoas, para o meio ambiente e que são economicamente viáveis na produção.
O setor financeiro também está investindo mais em empresas que não estão atreladas ao desmatamento ilegal. Temos aí a oportunidade de pagar por serviços ecossistêmicos que tragam uma maior valorização da natureza e dos ecossistemas.
Quais seriam as outras maneiras de combater as mudanças climáticas?
Existe também uma grande chance de combater as mudanças climáticas a partir da transição energética. Então, o transporte de alimentos no Brasil é feito principalmente por caminhões no sistema rodoviário. Por isso, já temos empresas fazendo grandes ações para trocar suas frotas para caminhões elétricos, por exemplo. E isso ajudaria bastante. Além disso, as fábricas, as processadoras, o varejo e todos os setores que usam energia se beneficiariam muito mudando para fontes de energias renováveis.
Como a venda de crédito de carbono pode ajudar no combate às emissões de GEE?
Estamos enviando a primeira proposta para o mercado de carbono no Brasil. Essa proposta consiste em criar um limite para as emissões de GEE de cada indústria e, também, regulamentar a troca de créditos de carbono. Isso vai ajudar bastante no acompanhamento das metas determinadas no Acordo de Paris. O setor da alimentos, especialmente o agronegócio, tem uma grande oportunidade de participar desse mercado de carbono que estamos tentando regulamentar no Brasil através das reservas legais e, também, mantendo a floresta em pé. A ideia é transformar isso em crédito de carbono e comercializar gerando renda extra nas propriedades rurais.
Para além do setor empresarial, também temos que olhar para o nosso papel como consumidor, de exigir novos produtos e incentivar e apoiar essa transição do setor empresarial que já está se esforçando tanto.