A Mata Atlântica é considerada a formação florestal com mais biodiversidade do Brasil. Reúne cerca de 20 mil espécies vegetais distribuídas por 17 estados do país. A Mata é um dos 6 biomas brasileiros. Junto com Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampa abrigam, pelo menos, 20% de todas as espécies do planeta.
O bioma tem mais de 2 mil espécies de aves, anfíbios, répteis, mamíferos e peixes. Números grandiosos, mas bem diferentes do que resta da floresta original. A Organização Não-Governamental SOS Mata Atlântica trabalha para a preservação dessa região desde 1986. Para entender um pouco mais sobre o trabalho da ONG, conversamos com o diretor de políticas públicas da ONG Mário Mantovani.
Qual é o maior desafio da ONG?
O grande momento da SOS, agora, é o trabalho com a restauração florestal. Um movimento que está em evidência não só no Brasil, mas no mundo. É a década da restauração. Antigamente, a gente falava em desbravar, domar a natureza e, com isso havia a criação de espaços onde a natureza ficava isolada, até mesmo com áreas sem conexões formando ilhas. Hoje, o pensamento é o de fazer um processo de restauração. E essa mudança vem ocorrendo devido a evolução da ciência. Percebeu-se que é muito mais barato fazer processos que respeitem o meio ambiente e, isso foi um grande avanço de entendimento.
“O pensamento é o de fazer um processo de restauração. E essa mudança vem ocorrendo devido à evolução da ciência.”
Como a preservação do meio ambiente ajuda na segurança alimentar?
A segurança alimentar ocorre ao se fazer adequação das propriedades com APP (Áreas de Preservação Permanente), da conservação e proteção dos mananciais – especialmente aqueles que contribuem para o abastecimento público, do reconhecimento das culturas e das comunidades tradicionais e até mesmo a agricultura urbana. Temos várias áreas nas cidades se transformando em áreas de agricultura.
As matas ciliares são fundamentais para a regulação hídrica e melhoria de água. Você faz uma restauração ecossistêmica e consegue fazer as conexões que faltavam, como os corredores de fauna, as cortinas (nas lavouras) evitando difusão de produtos de um lado para outro em momentos em que são feitas pulverizações com defensivos. Nós estamos falando de uma agricultura que entrou num estágio quase de industrialização, de alta tecnificação, mas a base dela é ter uma terra boa, a fertilidade do solo e água disponível. A maior parte da água que se consome no Brasil é em produção agrícola, muito pouco vai para o abastecimento urbano. E mesmo assim, a cidade ainda joga o próprio esgoto no rio. Quando se tem um plano municipal nas cidades, nos municípios que têm uma vocação agrícola, a ONG pode trabalhar mais.
Como é o trabalho de restauração?
A SOS tem o programa “Florestas do Futuro” com participação de proprietários de terras, poder público, agricultores, empresas. Através de convênios com os setores público ou privado, são feitos projetos para que áreas sejam recuperadas com o plantio de árvores. Quem vai receber a muda, tem que cuidar e a SOS auxilia no plantio, na aplicação de tecnologia e nas auditorias. A maioria das mudas utilizadas para esses trabalhos vem do Centro de Experimentos Florestais SOS Mata Atlântica, em Itu (interior de São Paulo).
Como a Lei da Mata Atlântica auxilia o trabalho da SOS?
Ter a lei não é ter uma garantia. A lei é uma referência. O grande alcance da SOS é o trabalho de educação, de processo de entendimento da sociedade. Atualmente, ainda temos pessoas que querem explorar e continuar explorando o que tem, convertendo e esgotando áreas sem se preocupar com a terra. Quando você tem os cinturões verdes – locais onde normalmente se produz verduras e hortifrutis, em torno das cidades, tendo uma regulação, é possível ter mais proteção e melhor produção porque se respeita a principal base que é a natural.
“As empresas estão entendendo que têm um momento novo de trabalhar com o meio ambiente.”
Como é a relação da SOS com as empresas e instituições?
Hoje, as empresas estão entendendo que têm um momento novo de trabalhar com o meio ambiente. O gestor tem que estar atento aos sinais e, caso a indústria não tenha uma certificação de origem e não se preocupe em desenvolver seus produtos se adaptando aos sistemas ambientais, perde mercado. Não é só mais um papo de ambientalista.
Confira a entrevista no Episódio Biodiversidade: