Café sustentável | Comida Boa - Do Campo à Mesa

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Café sustentável

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Do Cerrado saem alguns dos melhores cafés brasileiros. E isso só é possível graças ao uso da irrigação. Mas para produzir café e, ao mesmo tempo, conservar a água do Bioma, os produtores trabalham duro para encontrar o sistema de irrigação mais eficiente e econômico.

Uma das pioneiras na adoção de irrigação no café, foi a Fazenda Paraíso, no município de Araguari, região do cerrado mineiro. Para conhecer melhor essa história, conversamos com Evanete Peres, dona da propriedade. Filha de uma família com mais de 100 anos de cafeicultura, ela é responsável por conduzir a área de 200 hectares que abriga 1 milhão de pés de café, com produção média de 8 mil sacas/ano.

Por que a família decidiu encarar os desafios do cerrado para produzir café?

Minha família é paulista e produz café há 107 anos. Já tivemos cafezais em São Paulo e no Paraná. Meu pai veio para o Cerrado há 36 anos, em busca de uma região onde não tivesse geada. Nessa época, a cafeicultura estava começando por aqui. Só que nessa região, principalmente em Araguari, tem um período de seca muito grande que, geralmente vai de maio a setembro. Então, o café ia bem até certo ponto, mas não produzia satisfatoriamente porque sofria com a falta de água. Por isso, é impossível produzir café aqui sem irrigação. Aliás, a irrigação em café começou em Araguari.

Quais sistemas de irrigação vocês usam?

O primeiro sistema de irrigação empregado no café no cerrado, que a gente chamava de tripa, era muito rudimentar. Era uma mangueira, com furos dos dois lados, que se colocava no meio da rua de café, e ela espalhava a água para os dois lados. Mas época de estiagem, se perdia muita água por evaporação.

Por conta disso, passamos a usar o pivô central, que é muito eficiente para a produção, mas também tinha duas grandes dificuldades. A primeira é que, para aproveitar a água, precisávamos ter o cafezal plantado em área circular (para acompanhar o movimento dos pivôs que “andam” em círculos) e, na época, ninguém tinha café plantado dessa forma. Então, o pivô se tornava um problema, porque molhava a área total, consumia muita água e a energia que ele gastava também era bastante considerável.

A segunda questão é que o pivô molhava a planta toda. Então, quando chegava na colheita, tínhamos que cortar a irrigação totalmente. Porque se os frutos de café receberem água, eles podem fermentar e mofar ainda no pé, causando grandes problemas para a qualidade dos grãos e da bebida. 

Por isso, testamos a irrigação por gotejamento, uma tecnologia israelense que já era usada em outras culturas. As pesquisas se iniciaram aqui na nossa fazenda que, na época, já desenvolvia uma série de estudos em parceria com a Universidade de Uberlândia.

O gotejamento se mostrou extremamente eficiente no café. Hoje, temos o sistema implantado em toda a área, totalmente automatizado, o que facilita bastante o trabalho.

As mangueiras de irrigação são instaladas embaixo dos cafeeiros, ao lado dos troncos, e, gotejando, só liberam a água necessária para a planta. Como a irrigação é localizada, além da eficiência, a tecnologia de gotejamento também reduz o consumo de energia e, principalmente, de água. Pois o sistema permite que a gente calcule a quantidade de água que estamos colocando no solo.

Como calculam a quantidade de água que deve ser colocada no sistema?

Depende do período do ano e do estágio do cafezal. No nosso caso, temos um programa de computador, onde controlamos quantos milímetros já choveu em 30 dias e quanto falta de água para suprir a necessidade das plantas. Aí ligamos o sistema apenas para repor o que não choveu. Durante a colheita, só molhamos o que as plantas perdem por evapotranspiração. Para isso, ligamos a irrigação em torno de 2 horas, todas as noites, horário em que energia é mais barata. Só molhamos durante o dia quando temos que fazer a fertirrigação (aplicação de fertilizantes junto com a água).

Durante o período seco, a gente tem que reforçar a irrigação para que o café possa florescer. Nessa fase, trabalhamos com o sistema ligado por períodos mais longos.

O café produzido na Paraíso obteve a certificação de sustentabilidade concedida pela RAINFOREST ALLIANCE. O que foi preciso fazer para conseguir este selo?

Temos certificações há 15 anos. Não só da Rainforest, mas também da UTZ e da Starbucks. As regras são duríssimas e contemplam todos os conceitos da sustentabilidade: a questão social, ambiental, agronômica e de segurança alimentar. No caso da Rainforest, precisamos atender 4 princípios:

1 – Sistema eficaz de planejamento e gestão: uma seção de requisitos específicos que promove a área de impacto “Produtividade e rentabilidade da fazenda” e também dá apoio a outras áreas de impacto como conservação da biodiversidade, conservação dos recursos naturais e melhoramento dos meios de vida e bem-estar humano.

2 – Conservação da biodiversidade: aqui é preciso implementar dos critérios e ferramentas para proteger os ecossistemas naturais dentro propriedade e garantir que não se contribui para o desmatamento.

3 – Conservação dos recursos naturais: para a Rainforest, a conservação dos recursos naturais é a base fundamental para a agricultura sustentável. Então, é preciso minimizar a poluição ambiental levando em conta as pessoas, polinizadores e animais, entre outros. O objetivo aqui é garantir a saúde do solo e da água, e também reduzir o uso de agroquímicos e de combustíveis fósseis.

4 – Melhores meios de vida e bem-estar humano: A Rainforest parte do princípio de que os seres humanos têm igual valor e devem ser bem tratados. Por isso, temos que proteger os direitos humanos e trabalhistas para todos os funcionários, colaboradores e suas famílias.

Em 2020 tivemos 100% de aprovação em todos os requisitos da Rainforest.

Quais os benefícios da certificação?

80% do café que produzimos vão para exportação, principalmente para Estados Unidos, Japão, Alemanha e Itália. Todo o investimento em tecnologia e cuidado que temos com o cafezal, vem nos garantindo que 60% da nossa produção seja classificada como Café Especial. A qualidade e as certificações garantem alguns dólares a mais por saca vendida.

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