E se as pragas devorassem a sua comida? | Comida Boa - Do Campo à Mesa

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E se as pragas devorassem a sua comida?

E se as pragas devorassem a sua comida?

O que você faz quando encontra uma pulga no seu cãozinho? Com certeza, faz qualquer coisa para se livrar da praga que pode deixar seu animalzinho doente. E você só se tranquiliza depois que inicia o tratamento com os produtos veterinários.

Aliás, o princípio de ação dos produtos que você usa no seu pet, é o mesmo de muitos dos químicos aplicados nas lavouras! Alguns deles são, inclusive, os mesmos produtos. Afinal, as pulgas, carrapatos e muitos outros seres vivos são encontrados em diversos lugares. 

Agora, imagine vários insetos, fungos, vírus e bactérias ameaçando o crescimento de plantações. E não só no campo. Aquela maçã que você deixou na cozinha, fora da geladeira, pode ser devorada por algum ser vivo que nem enxergamos.

De acordo com a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, entre 20 e 40% de todos os alimentos produzidos no mundo se perdem por causa do ataque de pragas. Quanto desperdício de alimento que pode acontecer já no campo! 

Se você é daqueles que curte colocar a mão na terra e fazer seu próprio jardim, já deve ter lidado com momentos de fúria diante de pragas que atacaram a sua plantinha. Carol Costa, famosa por ensinar quem vive nas cidades a cuidar de plantas em casa, revelou o quanto as pessoas ficam irritadas com as pragas no jardim, no Programa Conversa com Bial. “Elas não querem apenas a morte, querem uma hecatombe nuclear para as pragas, que os insetos desapareçam do planeta” – comenta Carol em tom de brincadeira. 

“a fome afeta 690 milhões de pessoas, ou seja, quase 9% da população mundial.

O dado da FAO sobre o impacto das pragas na produção agrícola é preocupante, especialmente, quando pensamos que a fome afeta 690 milhões de pessoas, ou seja, quase 9% da população mundial. É como se todas as pessoas de 3 países como o Brasil passassem fome ou estivessem subalimentadas. Em outras palavras, esse assunto é sério demais para não nos preocuparmos. 

Com uma população global que deve chegar a 10 bilhões nos próximos 30 anos, a humanidade está diante de um gigantesco desafio: aumentar a produção de alimentos sem expandir a área cultivada na mesma proporção. Em resumo, precisamos colocar mais comida na mesa sem esgotar os recursos naturais. As estratégias mais viáveis são o desenvolvimento e a adoção de tecnologias que permitam colher mais nas mesmas áreas.

O filme “Interestelar” traz um olhar fictício num cenário onde já teríamos consumido os recursos naturais. Nele, Matthew McConaughey é um engenheiro que está produzindo milho num mundo caótico e com várias catástrofes ambientais, com plantações sendo atacadas por pragas e rajadas de vento, até ser chamado a fazer parte da missão espacial de buscar um novo planeta para recomeçar. Assista ao trailer.

Tecnologia é fundamental para produzirmos alimentos para todos

Para garantir a oferta de alimentos é preciso eliminar ou, pelo menos, diminuir desperdícios. Por isso, é tão importante impedir que as pragas avancem nas lavouras. E  graças à ciência, não faltam ferramentas. Hoje, há uma gama de tecnologias para proteção de cultivos. Entre elas, estão os defensivos químicos e biológicos.

Para impedir que esses produtos afetem a biodiversidade, nenhum deles vai parar no campo sem mostrar que pode ser usado de forma segura e sem atingir outros seres vivos. É preciso seguir orientação e regras para garantir essa segurança, é claro.

E não pense que o uso de substâncias químicas para controlar pragas é novidade. Os sumérios, por exemplo, usavam enxofre bruto para proteger suas colheitas de insetos invasores. Na época medieval, produtos químicos, como arsênico e chumbo, também eram comuns em culturas.

De um jeito intuitivo, produtos de base biológica também já são utilizados há séculos. Há 3 mil anos, produtores chineses de frutas cítricas utilizavam formigas para combater pragas nos pomares.

Com o tempo fomos aprimorando esses aprendizados e em meados dos anos 1980, um vírus, o Baculovirus anticarsia, começou a ser usado com bastante eficiência para controlar a lagarta da soja. Na época, isso dava um trabalhão. Os produtores coletavam lagartas mortas, congelavam e, posteriormente, as transformavam em um inseticida natural.

Hoje, existem muitos produtos biológicos destinados ao combate de diversas pragas. Eles são encontrados no mercado, em diferentes formulações, facilitando a vida do produtor.

O Brasil ainda tem espaço para plantar alimentos sem afetar a biodiversidade

O uso de tecnologias para proteção de cultivos foi uma das alavancas que colocaram o Brasil na categoria de potência agrícola mundial. Em menos de meio século, o país aumentou sua produção de grãos em mais de 360%, expandindo em apenas 56% a área de cultivo. Isso é preservação da biodiversidade. Afinal, poupamos área. E ainda podemos fazer muito mais. 

Embora muito se fale sobre a agricultura brasileira, tudo acontece em menos de 8% (64 milhões de hectares)  do nosso território.

Sem contar que, diferentemente da maioria dos países, o Brasil ainda tem espaço para aumentar sua área agrícola sem derrubar nenhuma floresta. De acordo com o Ministério da Agricultura, temos 140 milhões de hectares de áreas em que não se cultiva alimentos porque precisam de recuperação do solo. São as chamadas terras degradadas, abandonadas por causa de incêndios, inundações ou mau tratamento do solo. Ou seja, se precisarmos de mais espaço para cultivar, podemos investir na recuperação dessas áreas sem ter que derrubar uma única árvore. 

Confira como a ONG SOS Mata Atlântica trabalha com a restauração de áreas

Com as tecnologias de proteção de cultivo para evitar que as lavouras sejam, literalmente, devoradas por pragas, seguiremos alimentando o mundo e preservando nossa gigantesca biodiversidade. Além disso, temos legislação ambiental impondo limites fortes para a produção agrícola. Como consequência, 66,3% do território brasileiro estão ocupados com florestas e vegetação nativa, de acordo com a Embrapa. E para que você possa avaliar como estamos em termos de conservação, enquanto o Brasil dedica 66,3% do território para a proteção da natureza, esse índice cai para 19,9% nos Estados Unidos e 17,9% na União Europeia. 

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