Mesmo com grande produção de alimentos, a pandemia da covid-19 aumentou o quadro da fome.
A fome, em maior ou menor grau, atinge milhões de pessoas no planeta. É uma realidade que piorou muito durante a pandemia, quando a Covid-19 afetou diretamente a economia mundial. Os resultados foram mostrados no relatório “O Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo” (SOFI) 2021, da FAO (Fundação das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), elaborado em parceria com outras agências da ONU e divulgado em julho deste ano.
De acordo com o documento, em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas se encontravam em situação de insegurança alimentar no mundo. “Mais da metade de todas as pessoas subalimentadas (418 milhões) vivem na Ásia; o segundo continente com mais pessoas passando fome é a África (282 milhões); e uma proporção menor (60 milhões) na América Latina e no Caribe. Mas o aumento mais acentuado da fome foi na África, onde a prevalência estimada de desnutrição – em 21% da população – é mais do que o dobro de qualquer outra região”, diz o relatório.
Estatísticas preocupantes
Para você entender melhor o conceito de fome, a FAO classifica a insegurança alimentar em 3 níveis:
Leve – preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro;
Moderada – falta de alimentos e redução na quantidade deles entre os adultos;
Grave – falta de alimentos e redução na quantidade de alimentos entre os adultos e as crianças.
Se considerarmos todas as pessoas que tiveram dificuldade para conseguir uma boa alimentação ao longo de 2020, o número é assustador. “Foi de 2,3 bilhões”, afirmou o diretor do escritório da FAO em Genebra, Dominique Burgeon, em entrevista à agência de notícias AFP. São “320 milhões de pessoas a mais do que em 2019”, completou.
Fome no Brasil
Embora o agronegócio e a indústria de alimentos tenham resistido melhor à Covid-19 do que outros setores da economia, o desemprego e a perda de renda das famílias dificultaram o acesso dos brasileiros a uma alimentação saudável em 2020. O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), apontou que 19 milhões de brasileiros passaram fome durante o ano passado.
Muito além da produção de alimentos
A pandemia evidenciou que, de fato, a fome não é uma questão relacionada apenas à produção de alimentos. Fatores como conflitos, mudanças climáticas e problemas econômicos impactam diretamente a capacidade da população de ter acesso à comida em quantidade e com boa qualidade nutricional. E a Covid-19 atingiu em cheio as economias mundiais. Estima-se que a pandemia aumentou a dívida dos países em 20 trilhões de dólares.
Esse cenário coloca em risco um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU, de erradicar a fome do planeta até 2030. Para reverter a situação será preciso muito esforço e trabalho.
Caminhos para combater a fome
O relatório da FAO aponta alguns caminhos para enfrentar a insegurança alimentar. Entre eles, “integrar políticas humanitárias, de desenvolvimento e de construção da paz em áreas de conflito; ampliar a resiliência climática em todos os sistemas alimentares oferecendo aos pequenos agricultores, por exemplo, amplo acesso a seguro contra riscos climáticos e financiamento baseado em previsões; e intervir ao longo das cadeias de abastecimento para reduzir o custo de alimentos nutritivos, incentivando o plantio de alimentos biofortificados ou facilitando o acesso aos mercados dos produtores de frutas, legumes e verduras”.
O relatório também recomenda que os governantes atuem para expandir a disponibilidade de dados e de novas tecnologias para todos.