O que você faria se descobrisse ratos passeando pela sua casa, baratas na sua cozinha ou insetos devorando o seu jardim? Provavelmente, sairia em busca de iscas, ratoeiras e inseticidas para eliminar os intrusos, certo? No campo acontece a mesma coisa. Só que de forma amplificada.
Moro num país tropical abençoado por Deus…
Em um país de clima tropical como o Brasil, a ocorrência de pragas e doenças é muito frequente. Ao contrário do que acontece no hemisfério norte e extremo sul do continente americano, aqui não tem neve no inverno para interromper o ciclo de vida de insetos, microrganismos e plantas daninhas que prejudicam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Ou seja, se os agricultores não combaterem os “invasores”, além de grandes prejuízos, não iriam colher alimentos suficientes para abastecer as nossas casas.
Segundo a FAO, entre 20 e 40% de toda a produção mundial de alimentos é perdida pelo ataque de pragas e doenças. Por isso, o uso de defensivos agrícolas químicos e biológicos é fundamental para a segurança alimentar do planeta.
No entanto, muita gente se pergunta se os alimentos tratados com defensivos agrícolas são seguros.
Ninguém sai liberando produtos por aí
Não pense que só porque um produto é usado num ambiente aberto como no campo, não tem controle. Inclusive, é preciso tomar muito mais cuidado.
Então, para deixar você mais tranquilo, vamos mostrar o longo caminho que cada defensivo percorre antes de chegar às lavouras.
Em primeiro lugar, é bom saber que o Brasil tem uma das legislações mais exigentes do mundo. As substâncias usadas para proteger os cultivos são rigorosamente reguladas por aqui. Necessitam de aprovação em órgãos diferentes para que possam ser vendidos. Precisam passar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Isso mesmo, a agência que analisa medicamentos também precisa verificar se os produtos não são tóxicos para quem se alimenta ou aplica no campo. Claro que sair aplicando defensivo agrícola sem proteção, jamais é indicação da ANVISA, que sempre alerta para esse cuidado.
O IBAMA analisa os efeitos sobre os seres vivos e o MAPA avalia como cada produto age nas lavouras e em que dose são eficientes. Ou seja, cada um no seu quadrado, analisa os impactos dos produtos antes que algum produtor possa pensar em aplicá-los no campo.
Tudo depende da dose
Seguindo a regra da frase atribuída ao médico Paracelsus: “Dosis sola facit venenum” (1538) em tradução livre “só a dose faz o veneno”, seja um medicamento, alimento ou qualquer outro produto, não se pode abusar da dose.
Em grandes quantidades ou mau uso tudo pode ser tóxico. Por isso, a dose certa é o que garante a eficácia do tratamento, e ao mesmo tempo, impede que você se intoxique ou tenha efeitos colaterais por sua ingestão. No campo, não é diferente.
Órgãos reguladores garantem a segurança do produto, mas atentar-se às regras de uso é um dever do agricultor. Aliás, a orientação técnica sobre os defensivos é essencial. Da mesma forma que precisamos que os médicos nos expliquem como se pode usar um medicamento.
Sem receita nada acontece
Assim como ocorre com os antibióticos e outros remédios controlados, que só podem ser vendidos com receita médica, os agricultores não podem comprar defensivos sem receituário agronômico (feito por um profissional credenciado como agrônomo).
Todos os produtos são acompanhados de bulas e rótulos que trazem informações sobre o grau de toxicidade (potencial de risco à saúde humana), doses recomendadas, períodos de carência (tempo de espera entre aplicação e colheita), classificação ambiental (potencial de risco ao meio ambiente) e as culturas a que são destinados.
Outra regra imposta pela lei é o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) para manipular e aplicar esses produtos no campo.